6h da manhã, e alguém esmurra a porta aos berros...
Era o Wellington, já dando uma pequena mostra da sua casqueadura!
Acordar com gritos, e ter que seguir para um banho frio (O chuveiro era quente, mas quem disse que o frio deixava esquentar aquela busenga), e ainda tendo que lavar o cabelo, não tem preço!
Primeira etapa, banho, cumprida!
O pessoal já estava tomando café da manhã, quando nós saímos. E eu fui com a Folly, ver o que tomaríamos. O café era simples, pão, leite, achocolatado, suco de açúcar com caju, e uma broa.
Pra começar, leite quente, MUITO QUENTE, que me rendeu dois dias de língua dormente. E 1 pão pra cada... Não que eu fosse comer mais de um, mas colocar um pra cada é foda! rs... Foi aí que começou a grande paixão pela manteiga Macuco. PQP, que delícia!!!
Juntamos-nos ao grupo, que já discutia o que faríamos naquele dia. Ouço reclamações do ronco da Folly, e esperamos que a Enfª Lívia viesse nos buscar, para que, finalmente, fossemos para o tão esperado Manancial.
Acho que a ansiedade era tanta, que ficamos 40 minutos na porta da Pousada, com toda aquela bagagem, esperando o motorista chegar. E olha que, para complementar a ansiedade, ele passou por nós duas vezes, dizendo que já viria nos buscar. rss...
Foram tantos minutos, que deu tempo da Folly colocar a calça jeans dela, estirada em cima das bagagens, pra secar. Pouco discreta, a minha amiga! rs
Eis que a kombi chega. Entra material, entra gente, despede do Alex e do Mello, que voltariam para o Rio, e vamos ao encontro do Manancial.
Segue em frente, vira a rua, segue mais, e começamos a subir... Subimos, subimos... Começa a estrada de chão, e continuamos a subir... E o motorista, sem graça com as gargalhadas do remelexo dentro da kombi, diz que o Prefeito é legal, e está só esperando as obras da Cedae, pra asfaltar aquela região. Eu penso comigo, que bacana, estamos indo para um local em pleno desenvolvimento!!!
Chegamos a uma praça, ou melhor, um espaço descampado, com mtos barrancos na volta, e eu vejo também um conjunto habitacional abandonado no alto, e uma casa retangular, com muros baixos, onde funciona o PSF que ficaríamos.
Ao mesmo tempo, chega a Enfª Lívia, em seu carro, com o restante das nossas bagagens. rs
Entramos com todo o material, e somos apresentados a Enfª Tatiana, que coordena o PSF, e aos funcionários que trabalham lá. Tirando a Tatiana, que precisava ser educada, todos nos olham desconfiados.
Entramos no quarto, onde dormiríamos, e a minha primeira surpresa: tem uma cortina preta, do teto ao chão, e uma mesa gigante. Penso comigo: será que eu estou em uma sala de velório da comunidade e não sei?!?! Melhor esquecer isso, eu preciso dormir mais tarde!!!
Organizamos as malas na sala, com a ideia de que os colchões chegariam no final da tarde.
Acabada essa etapa, vamos dar uma volta com a Enfª Lívia pela comunidade - Sim, duas ruas, e casas no entorno.
A primeira impressão é estranha. As pessoas nos olham desconfiadas... Chego perto de um cachorro branquinho (cor de barro), e ele sai correndo, com os rabos entre as pernas. Concluo que não são só as pessoas da comunidade que são desconfiadas! rss...
A Enfª Lívia é bem vista por lá, todos cumprimentam ela, e a conhecem pelo nome. Ela nos explica que trabalhou ali por quase dois anos. Vamos andando devagar, dando bom dia a todos, até que chegamos na última casa da rua de cima, e conhecemos a D. Marisa.
Uma senhora mto simpática, que cola várias fotos do cantor Daniel pela varanda. Ela convida eu e a Folly pra entrar e conhecer a casa dela. Entramos, desconfiadas, e conhecemos a segunda paixão da D. Marisa: os bombeiros.
A casa dela, de dois cômodos, é bem organizada, limpa e colorida. Muitos ursinhos de pelúcia, foto de bombeiros, do Daniel e familiares. Ela nos oferece um café e água, mas não aceitamos. A lembrança do último café que tomei em uma comunidade que visitei, cujo copo era mais escuro que o próprio café, me deixou traumatizada.
Papo vai, papo vem... D. Marisa conta que por ter a casa organizadinha, e ter uma pensão de um salário mínimo, dificulta na hora de receber donativos da assistência social. Ela fala da sua paixão pelos bombeiros, pelo Daniel, e dos netos, que por ligarem a cobrar, ela cortou o telefone, que agora só recebe.
Por falar em telefone, ela diz: qlr coisa que vcs precisarem, liguem 3745 (fictício).
Oi? 3745? Quatro números?!?! Como eu ligo pra esse número?!?! rsss... Tudo bem, deixa pra lá... Outra hora alguém me explica como funcionam os telefones da cidade.
Peço licença, pois preciso voltar ao posto com a Folly, e quando chegamos na porta, onde estão todos?!?!
Puxa vida, a ordem não era andarmos em grupo?!?! Nos esqueceram, Fernanda, nos esqueceram!!!!
Seguimos ao posto, e lá, foi montada uma reunião na sala da Enfermagem. A Enfª Tatiana começa falando da comunidade, que ali é um lugar especial, mas que vem sofrendo com alguns probleminhas: o alto índice de usuários de drogas, alcoólatras, estupros, vandalismo e assalto. Ela diz pra não andarmos, em hipótese alguma, sozinhos, e depois de fechar o posto, as 17h, evitar de circular do lado de fora.
Ok, imagino a minha mãe escutando isso, mobilizando a Marinha, Exército, FAB, e o Corpo de Bombeiros pra ir me resgatar no meio daquele vilarejo!!! Se eu queria aventuras nas férias: aqui estou!!!
Olho para o rosto do pessoal da equipe, e sinto uma tensão no ar. rs
Enfim, alguém chama, dizendo que o almoço chegou, junto com a Tia Sandra. Todos seguem desconfiados, pra finalmente conhecer a cozinheira, que nos acompanharia por 11 dias. O temor de ter que comer uma carne moída com macarrão, como no dia do treinamento na Cruz Vermelha, é assustador.
Opa, ela lembra fisicamente a minha madrasta, é simpática, e para a felicidade da nação, o almoço não é macarrão com carne moída. Pra se bem sincera, não me lembro o que almoçamos naquele dia. Mas estava uma delícia, tenho certeza. E tinha salada, para felicidade da Carla! rs
O primeiro almoço é no quintal do posto, já que não havia mesa que acomodassem todos.
Passo a tarde programando a minha palestra em ppt, sobre hipertensão, dengue e diabetes, já que me disseram que são os principais problemas da comunidade, que na minha cabeça, seria na quinta-feira, enquanto o restante do grupo vai conhecer o campo, e convidar a comunidade, acompanhados de um agente de saúde, para as atividades que seriam programadas no dia seguinte.
Aproximadamente 16h, recebemos uma ligação de que o carro com a nossa alimentação e colchões não chegaria a tempo, naquele dia. Ok! Mas onde vamos dormir?!?! Uma mobilização começa, em busca de colchões, tem um inflável da Ana Paula, surge mais um inflável da Tia Sandra, e conseguem mais dois na comunidade. Ok! 2 colchões micro de casal, um como papel, e um de solteiro. 8 cabeças pra dormir...
Tah bom, tah bom... tdo vai dar certo! Eu vou dormir com a Folly roncando do meu lado, mas tô feliz, meus slides ficaram lindos! rs...
Deu 17h, a equipe do posto tranca tudo, e vai embora. Jantamos, e a Tia Sandra vai embora, deixando o telefone dela, do marido, do papagaio e do cachorro, e vai embora, sempre nos alertando a não ir lá fora!
Ficamos os 8 no posto, e começam a jogar areia nas janelas, e gritar:
- Vamos assaltar o posto, vamos assaltar o posto!
Imaginem a cena: todos param e se olham ao mesmo tempo.
Alguém diz, são só crianças gritando!
Ok Claudia, crianças de 6, 7 anos, gritando que iriam assaltar o posto, enquanto jogam areia na janela. Acho que vou ligar para o meu irmão, estou com medo! hahahahaha... E foi o q eu fiz! E ainda imploro que ele não conte nada pra minha mãe. O conselho é: vc não precisa disso, volta pra casa!
Mas quem disse que eu quero voltar pra casa?! E outra, como eu voltaria pra casa naquela hora, trancafiada dentro do posto, lembrando dos conselhos sobre a comunidade, e com crianças jogando areia nas janelas?!?!
Vamos tomar um café, e o Wellington me pergunta se a minha palestra já estava pronta, para o dia seguinte.
Oi? Dia seguinte? Não tem projetor pro dia seguinte! Como vou passar meus slides?!?!
Que ódio eu fiquei daquele garoto. Como assim, eu passo a tarde inteira me programando pra quinta, e agora é amanhã?!?! Ele tenta me explicar, e eu como ariana atacada, mal o deixo falar, e ele, para o meu ódio mortal, me deixa falando sozinha, e vai para o quarto, e ainda é seguido pela Ana Paula, e pela Carla.
Só lembro da minha última frase sobre o assunto:
- Eu sou uma Dyva, e vou arrasar, vc vai ver!
HAHAHAHAHAHAHAHAH
Mal sabia que essa seria a palavra mais repetida por ele nos próximos dias!
Alguém está com vontade de comer doce... Quem?!?! O Marcelo, claro!
E pior, incentivado pela Camila, eles decidem ir lá fora!
Como assim, lá fora?! Não... vamos todos, então! Daí começa o sentido de família... Se é pra ir, vamos todos!
Não, alguém diz. Vão quatro, e ficamos quatro. Qlr coisa, nos defendemos!
Ok, lá fomos eu, Marcelo, Folly e Camila.
Ao sair do portão lateral do posto, tem um grupo de adolescentes que nos olham desconfiados. Eu pergunto a eles, onde podemos comprar algo, eles indicam um barzinho no final da rua, e escuto fogos.
Sim, soltaram fogos! Juro que quase morri nessa hora...
Nos dividimos: Marcelo e Camila vão comprar o doce, eu e a Folly ficamos na porta, conversando com os meninos. Ok, eu fazendo a linha “simpática”, chamando um dos meninos de Neymar, por conta do corte de cabelo, pergunto o nome deles, falo do frio...
A Folly me cutuca... está vindo um carro preto, beeeeeeeeeeeeem devagar.
Eu continuo conversando, simpática, animada... Nem raio laser passaria naquele momento!
O carro passa pela gente, mais devagar ainda... E eu finjo nem notar. Rs
Camila e Marcelo voltam, continuamos a conversar, disfarçar, e finalmente entramos.
Ufa! Nosso primeiro contato tinha sido tenso... rs
Agora, preciso pensar na Hipertensão, diabetes e dengue... É pra amanhã, às 9h! rs...
Como boa ariana que sou, estimulada, e com mta vontade de que dê tudo certo, só pra mostrar o qto sou boa naquilo que me proponho a fazer (como sou ridícula), a criatividade aparece.
Tenho uma ideia bem legal, modéstia a parte, de como manter um grupo de adultos e idosos concentrados em mim, por duas horas. E nessa eu fico, com o apoio da Folly, Marcelo, Camila e Nathy, até às 5h da manhã! E resolvo tirar um cochilo até às 7h, pra ficar com menos olheiras! rsss...
Foram aproximadamente 40 minutos de sono, o restante, eu passei sacudindo a Folly, pra que ela não roncasse, e desse motivo para falarem dela!
7h... O despertador alucinado toca. De quem?!?! Do Wellington, claro!!!
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